O que vai numa capa?

São muitos os ingredientes e os trabalhos que entram na fabricação de um livro. Todos – todos mesmo, acreditem – são cruciais para o bom resultado final, ainda que muitos não estejam destinados às luzes da ribalta: alguns dos estágios da lida editorial são discretos por natureza; outros, se bem feitos, devem até ser invisíveis: se o leitor nem notar o trabalho do revisor, ótimo, sinal de revisão bem feita! Mas a capa, bem, essa nasceu para aparecer.

George Clooney: política é o fim?

Para Hollywood, não é de hoje que a política é o fim. Não me refiro aos anos negros do marcarthismo, nem aos astros que viraram políticos de direita, como Ronald Reagan e Arnold Schwarzenegger, mas aos filmes propriamente ditos. No cinema americano, a política é um terreno sujo onde os maus entram para se dar bem e os bons se dão sempre mal, enredados numa teia infernal de compromissos, concessões, meias-verdades, intrigas e traições.

Fala besteirinha!

Acho que todos temos duas iniciações importantes: o primeiro contato com alguma coisa que internamente reconhecemos como trazendo uma emoção diferente de tudo experimentado até aquele momento. A segunda iniciação é o ato sexual propriamente dito, ou melhor, praticado. Minha primeira, no sentido que descrevi, foi muito precoce, dando inteira razão a Freud sobre a malícia das crianças. Despi, no quarto de brincar que ficava nos fundos da casa-paraíso de Vila Isabel, a filha de uma empregada, mais ou menos da mesma idade que eu, uns 7 anos.

Palestra de José Miguel Wisnik – Clarice Lispector

Este vídeo traz, na íntegra, a conferência de José Miguel Wisnik sobre Clarice Lispector realizada no dia 10 de dezembro de 2011, no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro. Nesse dia, comemorou-se a data de nascimento da escritora (1920-1977) em uma série de eventos intitulada Hora de Clarice. Ao lado de outras várias instituições, o IMS também prestou sua homenagem na ocasião.

Saudosa cabocla

No final dos anos 60 para os anos 70, porém, não havia muitos lugares onde um guri curioso pudesse contemplar a inteireza da figura feminina. Eu era viciado em banca de jornal e descobri que havia uma exceção nessa burca social: postais com fotos de índias (…). Nos postais, eu podia contemplar as jovens índias peladonas e ainda afetar um precoce interesse antropológico. Uma tia umbandista achava, tolinha, que o meu interesse pelas fotos do Xingu se devia à existência de um caboclo saudoso de sua maloca dentro de mim. Nem eu nem ela imaginávamos que o que eu queria era estar dentro de uma cabocla.

IMS ganha novo museu em São Paulo

O Instituto Moreira Salles terá um novo museu em São Paulo. O projeto do escritório Andrade Morettin Arquitetos venceu o concurso do qual participaram outros cinco escritórios brasileiros para a construção – em um terreno na avenida Paulista, entre as ruas Bela Cintra e Consolação – de um edifício que destinará três andares (algo como 1.200 metros quadrados) somente para exposições e terá também um cinema/auditório, uma biblioteca de fotografia, salas de aula para cursos, cafeteria, loja e a administração do IMS.

Veja estas canções

Há duas coisas a notar aí. A primeira é que, por recorrer sistematicamente à música – e em especial à canção romântica popular -, As Canções talvez seja o filme mais imediatamente palatável de Eduardo Coutinho, aquele que potencialmente pode comover o público mais amplo. Se melodrama = drama + mélos (melodia), seria As canções um melodocumentário? Embora o melo aqui se refira a música, e não a “meloso” ou “melado”, o próprio Coutinho já qualificou seu novo longa de “um filme sentimental”.

Ver ou não ver, eis a questão

A pedido do meu inesquecível irmão, Marco Aurélio Braga Nery, Monique pousou para a capa do CD 50 anos. Aquela perna linda não é montagem! Foi apoiada no braço de minha poltrona, de sapato vermelho no pezinho! Eu, aparvalhado, estava com lipotimia na referida poltrona. (…) Eu, de copo em punho e cigarrilha, procurava não olhar a Monique com a mínima calcinha exibindo a, digamos, segunda testa a um palmo de meu avantajado nariz! O que um tijucano faz numa hora dessas? Mari conferia tudo com olhos de águia.

O colecionador de epígrafes

Esses dias, estava em dúvida sobre o que ler da minha pilha de livros na cabeceira, então comecei a ver as epígrafes. Ao abrir Pornopopéia, de Reinaldo Moraes, me deparei com a seguinte frase de um “autor anônimo do século XX”: “Tem dia que de noite é foda”. Caí na gargalhada. (…) Moraes saltou para o topo da pilha. Uma epígrafe boa pode ter o mesmo efeito de uma frase inicial impactante.

Vício e virtude

No famoso prefácio a sua peça Senhorita Júlia (1888), Strindberg escreveu que “o ?vício’ tem um reverso que muito se assemelha à virtude”. É um pensamento insuportável num mundo de certezas perdidas como o nosso. Queremos crer, desesperadamente, que o vício seja mesmo o oposto da virtude. Queremos uma tábua de salvação. Vemos o vício em toda parte, onde ele não devia estar, e já não sabemos como combatê-lo. O pensamento de Strindberg sobre a semelhança dos opostos é essencial para a compreensão da peça. Mas nós queremos poder voltar a acreditar em alguma coisa.