A revolução dos bichos

Animal político,  primeiro longa-metragem do premiado cineasta pernambucano Tião, é um filme brasileiro dos mais surpreendentes e originais. Uma coisa é certa: depois de assistir a esse filme você nunca mais verá com os mesmos olhos uma vaca – e, aliás, nem os seres humanos.

Qual livro?

Que livro você quer ver ou ler na Biblioteca de Fotografia do IMS Paulista? Vale tudo – fotolivro, catálogo de exposição, zine, livro teórico, filosófico ou histórico, monografia, revista –, desde que seja sobre fotografia.

A foto em foco

Nos últimos dias esteve em foco a foto da missa que celebrou a Abolição da Escravatura, feita no dia 17 de maio de 1888. Houve suposições de montagem na foto. Não há montagem alguma.

Em nome da filha

Escrito em junho de 2016, o trecho abaixo é o prólogo do meu próximo romance, ainda sem nome definitivo, que tem como temas principais a alienação parental e a legalização das drogas. Como pano de fundo, a disputa pelo controle do narcotráfico dos anos 1970 até os dias de hoje, em especial na região amazônica, a corrupção nos Três Poderes e o estado policial rumo ao qual caminhamos.

Contar uma boa história

Nada no clamor para que autores voltem a “contar uma boa história” faz sentido. Mesmo a literatura comercial, ainda que sem qualquer engenho e de forma torta e tênue, diz algo sobre si mesma. Quando autores dispostos a experimentar com a literatura de gênero deslocam o foco da resolução para a investigação, não raro o resultado é instigante.  Quase todas as experiências revelam a relação complexa, mas estreita, entre investigação e signos, linguagem, literatura.

Mundo em ruínas, cinema vivo

Mesmo num mercado exibidor estrangulado como o nosso, o cinema brasileiro às vezes encontra brechas para nos revelar boas surpresas. É o caso de três filmes de diretores estreantes em longas-metragens que estão em cartaz no país. São bem diferentes entre si em temática, linguagem narrativa e tamanho de produção, mas, cada um à sua maneira, trazem um novo alento para os cinéfilos.

A ruína da mente adolescente

Se nos fosse dado escolher um autor como farol da imaturidade, um olho mal-humorado fixo nesta terra de memes e videoclipes tumultuados por bundas e carros possantes, Witold Gombrowicz seria o mais apropriado. Sua ficção lida como nenhuma outra com a transição entre a criança e o adulto, e com as cicatrizes que ela pode deixar no corpo envelhecido. O último filme de Andrzej Żuławski foi uma adaptação de Cosmos, romance de 1965, o último que Gombrowicz escreveu. Żuławski lançou o filme em 2015 e morreu em 2016; Gombrowicz, em 1969. Poderíamos tentar ler um significado nessa coincidência de fins de linha, mas é melhor não.

Entre a província e o mundo

Nos filmes de Mariano Cohn e Gastón Duprat, como este O cidadão ilustre, há sempre uma relação tensa e ambígua entre uma Argentina culta, cosmopolita, europeizada, e uma Argentina profunda, rude e arcaica. Esse conflito se traduz invariavelmente, em termos dramatúrgicos, nos desajustes entre um artista de talento e seu entorno, entre o absoluto da criação estética e as contingências do cotidiano. Entre arte e cultura, em suma, entendida esta última em seu sentido mais amplo, antropológico.

Família

Todo mês, a seção Primeira vista traz textos de ficção inéditos escritos a partir de fotografias selecionadas no acervo do Instituto Moreira Salles. O autor escreve sem ter informação nenhuma sobre a imagem, contando apenas com o estímulo visual. Neste mês de maio, Silviano Santiago foi convidado a escrever sobre uma foto de Chichico Alkmim.