Em 28/11/2015, o escritor Raduan Nassar completou 80 anos. Para comemorar a data, o Blog do IMS recuperou na íntegra uma rara e extensa entrevista de 1996, concedida pelo escritor para a edição dos Cadernos de Literatura Brasileira dedicada à sua obra. “É com as boas teorias, ou nem tanto, que se faz a má literatura”, afirma Nassar, parodiando André Gide.
Capital da solidão
Ausência é um filme sobre momentos cruciais na formação afetiva, psicológica e moral de um adolescente paulistano de classe média baixa. É também uma pungente reflexão sobre a perda, a solidão, o desamor, dotada de um lirismo urbano quase documental. A singular estrutura narrativa, que transmite uma aparência de naturalidade, de espontaneidade, de captação direta do real, na verdade é uma construção rigorosa, em que cada cena e cada diálogo servem à expressão de seu motivo central: o desamparo.
Atenção aos detalhes divinos – quatro perguntas a Jorio Dauster
Fizemos quatro perguntas a Jorio Dauster, tradutor consagrado que verteu para o português brasileiro oito obras de ficção de Vladimir Nabokov. Dauster comenta os gostos e desgostos de Nabokov, que acreditava que “ninguém pode ser ensinado a escrever ficção, a menos que já possua talento literário”, e definia a obra de arte como “a criação de um novo mundo”: “a primeira coisa a fazer é estudar esse novo mundo tão de perto quanto possível”.
Melancolia da falta de respostas
Federico García Lorca dizia que sua peça O Público era irrepresentável. Nem por isso deixaram de contradizê-lo e de representá-la. Para além do gosto do desafio, há a explicação do cânone. Lorca é um dos maiores dramaturgos espanhóis do século vinte, um autor incontornável, e O Público, um texto tão radical quanto ambíguo, paradoxal e enigmático, a primeira peça na qual o poeta trata abertamente da homossexualidade.
Um para o outro
Se eu a visse, com os cabelos brancos, no seu passo lento, atravessando o calçadão do Leme, onde mora, não hesitaria em afirmar: – “É a moça da foto tirada na praça de Poços de Caldas”. E recomendaria que visitassem, na cidade mineira, a exposição Fotografia de Domingo, que reúne a produção de fotógrafos amadores, e muitas vezes anônimos, dedicados ao registro de memória familiar ou pessoal, como a de Lygia e Nelson no banco da praça.
Certa dose de fingimento
Independentemente da fachada escolhida, sugerem Grunberg e Polanski, atuamos constantemente. Alguns mais, outros menos. Sem certa dose de fingimento — de autoengano, de cegueira voluntária —, não teríamos, de fato, a menor esperança de atravessar os dias. E não há garantia alguma. Bazárov, o niilista de Pais e filhos, observa que os homens “domesticam seus sistemas nervosos até um estado de irritação”, o que, em algum ponto, romperia “o equilíbrio entre os pratos da balança”. É o que acontece em Tirza e Deus da carnificina.
Chatô, réu do Brasil
Quase vinte anos depois de filmado, entra finalmente em cartaz Chatô, o rei do Brasil, longa-metragem de estreia de Guilherme Fontes. Não cabe aqui falar sobre os percalços e descaminhos da produção, mas apenas observar o resultado, isto é, o filme que agora chega às telas, e cotejá-lo um pouco com o cinema que se tem feito hoje no Brasil, sobretudo as cinebiografias e produções de enfoque histórico.
Uma Aida intimista
Desde a sua criação, Aida foi marcada pela exigência, na medida do possível em se tratando de uma ópera, de rigor histórico ou, ao menos, arqueológico. A montagem que o IMS-RJ exibe em seu cinema, foge das Aidas grandiosas. O diretor Peter Stein desejou encenar – no Teatro alla Scala, entre 15 de fevereiro e 15 de março deste ano – uma Aida intimista, sob a batuta do veterano Zubin Mehta, craque em Aidas, à frente da orquestra e do coro da casa de Milão.
Ana C. além da poesia
Além da poeta que influenciou toda uma geração a partir da década de 1970 e teve sua poesia reunida publicada em Poética,em 2014, pela Companhia das Letras, ressalta, no arquivo de Ana Cristina Cesar, sob a guarda do Instituto Moreira Salles desde 1999, a acadêmica e tradutora que ela foi.
Enlutar-se, fazer luta do luto
Somos um país sem nenhuma tradição de luto público ou político. As bandeiras não descem a meio pau quando dezenas de vidas são perdidas em Minas Gerais. Homenageamos nossos mortos à moda mais provinciana, falando bem de quem morreu como se fosse pecado dizer a verdade sobre eles. É tão triste a nossa incapacidade de reconhecer vidas perdidas dignas de serem lamentadas que podemos acabar metidos em debates estéreis como o que invadiu as redes sociais depois dos atentados em Paris. Estabeleceu-se uma disputa entre quais mortes teriam mais valor e quais manifestações de luto seriam mais legítimas. Falta enlutar publicamente os mortos de Mariana porque falta luto público para todos os nossos mortos.
