Cuidadosamente, para não entornar

A afirmação é feita pela negação. Maior o desespero, maior a intensidade do pequeno instante de felicidade que nada pode quebrar ou impedir. Por mais insensata que seja a existência, um só instante em que a vida se libera sem impedimentos supera todo o sofrimento. 

Menos quem não é

A polêmica sobre a campanha Eu também sou imigrante do Ministério da Justiça mostra como racismo rima com xenofobia na violenta cultura brasileira. O problema se agrava quando se encontram o jovem negro imigrante, alvo de racismo e xenofobia, com o jovem negro pobre, vítima de racismo, discriminação e violência policial, bisneto do passado escravocrata cujas feridas sociais ainda não foram curadas. 

Godard, revolução permanente

Godard faz parte da rara estirpe de artistas que, em vez de se acomodar com o passar dos anos, radicaliza o discurso e afia os instrumentos. Às vésperas de completar 85 anos, continua inquieto, desconcertante e imprevisível. A retrospectiva que entrará em cartaz em São Paulo, Rio e Brasília atestará a coerência e a integridade por trás dessa metamorfose ambulante, dessa revolução permanente.

Encontro com um editor de direita

Acho que era Kant quem dizia que ninguém pensa sozinho. E o que acontece quando a burrice passa a imperar? Alguém dirá que a burrice sempre imperou. Prefiro achar que nem sempre. Até muito recentemente, muito da nossa burrice coletiva se mantinha circunscrita ao isolamento da esfera privada. Ou pelo menos ainda não tinha encontrado os canais públicos para alardear sua hegemonia.

Crusoé moderno

Iluminista e antropocêntrico em sua essência, Perdido em Marte é uma celebração da ciência, de uma crença no poder ilimitado da inteligência humana para domar as forças naturais e colocá-las a seu favor. É, nesse sentido, o exato oposto do 2001 de Kubrick, eivado de dúvidas e angústias sobre a condição e os limites do homo sapiens.