Vício inerente, novo filme de P.T. Anderson, é a primeira adaptação do cultuado escritor norte-americano Thomas Pynchon para o cinema. Os acertos e erros do longa se devem muito à fidelidade ao material. Se, por um lado, é bem-sucedido em transmitir a confusão da trama e em captar o humor absurdo de Pynchon, por outro, revela-se cansativo na última parte.
Seguindo em frente rumo ao sul
O fotógrafo americano William Eggleston esteve no Brasil em março para a abertura da maior exposição já feita no mundo sobre sua obras, William Eggleston, a cor americana, em cartaz no IMS-RJ. Na véspera da abertura, conversou com Thyago Nogueira, curador da exposição, sobre as fotografias que compõem a mostra e o catálogo, tiradas em viagens pelo sul dos EUA, exibindo cenários desolados e encontros fortuitos.
Faltou sal a O sal da terra
O documentário sobre Sebastião Salgado assinado por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado (filho do fotógrafo) é, no mínimo, frustrante. Todo documentário centrado num personagem, se não quiser ser um mero registro chapa-branca, deve buscar contradições, tensões. Em O sal da terra, os diretores apenas seguram a câmera para o fotógrafo construir diante dela sua autoimagem edificante.
Sobre sexo, livros e morte
Chega ao mercado brasileiro Manifesto contrassexual, da autora espanhola Beatriz Preciado. Seu livro-manifesto data de 2002, é um marco na teoria queer, e sua chegada ao Brasil tantos anos depois pode ser considerada sinal de muitos sintomas: do atraso do debate sobre as fortes ligações entre sexualidade e heteronormatividade, de certa forma ainda mantido numa espécie de gueto como se fosse do interesse apenas de uns poucos.
A carta de Moholy-Nagy
Mesmo quem não é aficionado por arquitetura vai se emocionar com este vídeo raro: um registro feito por László Moholy-Nagy do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (Ciam) de 1933, realizado a bordo de um navio. O filme é mudo, mas quase podemos ouvir Le Corbusier em sua defesa apaixonada da cidade funcionalista para um grupo que se amontoa como pode para escutá-lo. A Carta de Atenas, saída do congresso, foi uma das bases de Lucio Costa na concepção urbanística de Brasília.
Ficção inteligente versus mercado
Uma nova e pequena editora, a Rádio Londres, surge no mercado apostando em títulos da ficção contemporânea que ainda não tinham sido publicados no Brasil. Livros muito diferentes entre si integram a primeira leva de lançamentos: Stoner, de John Williams, Viva a música, de Andrés Caicedo, e Estação Atocha, de Ben Lerner (foto).
Branco sai, preto fica – o filme do ano
Branco sai, preto fica, de Adirley Queirós, é um filme extraordinário na acepção plena da palavra: você não encontrará algo parecido em nenhuma cinematografia. Mais do que borrar a fronteira entre documentário e ficção, o longa a subverte “a partir de dentro”, ao expor o que há de ficção no que chamamos de realidade e o que há de realidade na mais desvairada fabulação.
Domesticação da literatura
A pior crítica é aquela que revela mais sobre o crítico do que sobre o que ele critica. Não é menos ruim a crítica que se pauta pelo funcionalismo mercadológico e que, em seu convencionalismo previsível de guia de consumo, não consegue conceber que a literatura dependa da liberdade do risco. Costumam ser dessa ordem as resenhas de Michiko Kakutani, crítica do The New York Times, e é o caso em especial da que ela escreveu sobre o mais recente romance de Kazuo Ishiguro, The Buried Giant.
Tema: decadência humana
Grey Gardens é um dos principais documentários de Albert Maysles, morto em 5 de março. O filme, que será lançado em DVD este ano pelo IMS, retrata um ambiente degradado, com mãe e filha dividindo uma velha casa. Maysles trabalhava como psicólogo antes de se tornar câmera e diretor de documentários. Ainda que Grey Gardens tenha sido realizado em conjunto com outras três pessoas, é difícil deixar de pensar que a sensibilidade com a qual Big Edie e Little Edie foram retratadas deve muito a ele.
Alice no país do Alzheimer
Julianne Moore é, de fato, extraordinária. Para sempre Alice, nem tanto. O filme descreve de modo convincente o processo terrível do mal de Alzheimer, mas sem aprofundar e desenvolver suas várias possibilidades, mantendo-se nos limites rasos do melodrama familiar. Ao contrário de Amor, de Michael Haneke, aqui tudo conflui para a mensagem edificante do amor como bálsamo, quase como “cura”.
