O espectador furioso

Há alguns meses, fui atacado em um jornal francês, por causa de uma peça que escrevi. Não vou defender a tese de que a exasperação da crítica tem necessariamente a ver com o mérito provocador das peças. Também não sou dos que acham que crítica tem que ser “construtiva”. Costumo me manifestar com veemência contra as coisas que abomino, torcendo para que desapareçam.

Brasil: modernidade sem crítica na Bienal de Veneza

A décima-quarta edição da Bienal de Arquitetura de Veneza, com curadoria do holandês Rem Koolhaas, abriu com um número recorde de países participantes e um foco temático na modernidade. No entanto, a participação brasileira mostra-se lamentável, exibindo um pot-pourri acrítico com a pretensão de fazer uma breve história da arquitetura no país.

Num táxi, no Rio de Janeiro

Da extensa e variada filmografia de Hugo Carvana (1937-2014), morto no último sábado, o que logo surge na memória do espectador é o personagem que ele desenvolveu nos primeiros filmes que dirigiu, Secundino Meireles. Ator em pouco mais de cem filmes e diretor de nove longa-metragens, Carvana fez muito mais que a invenção do personagem malandro.

Sem pena e os corpos fora do lugar

O sistema carcerário é tema do documentário de Eugenio Puppo, Sem pena, vencedor do prêmio do público no recente Festival de Cinema de Brasília. Numa época em que candidatos a cargos eletivos só falam em botar mais gente na cadeia, o filme mostra a falência do sistema penal, em seus princípios e em seu funcionamento.

Posições sobre a forma partida

Escolhemos candidatos de determinados partidos – palavra que está longe de poder designar união, por tudo que nela contém de quebra, ruptura – como se estes nos garantissem unidade em um programa de governo. Votar com essa expectativa é continuar votando a partir de uma formulação anacrônica de democracia. 

O sono contra a mercantilização – quatro perguntas a Jonathan Crary

Em seu livro recém-publicado no Brasil, 24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono, o teórico norte-americano Jonathan Crary procura mostrar que o capitalismo vê o sono como um inimigo. “Não é lucrativo para as empresas deixar tempo livre para o descanso humano, a saúde ou o bem-estar. Se as pessoas parecem ser workaholics, não é por escolha própria, mas por causa de uma urgente necessidade econômica”, diz nesta entrevista.

A sedução de Susan

Sobre Susan Sontag, documentário de Nancy Kates em cartaz no Festival do Rio, ocupa-se corretamente da obra de uma das vozes mais influentes da história intelectual americana, mas se espalha mesmo é no território que ela sempre interditou: sua intimidade. Tão fascinada pela própria imagem quanto pronta a intervir nas “grandes causas”, Sontag foi personagem complexa da qual o filme dá e não dá conta.

 

Conversas na galeria: Ana Luiza Nobre

As fotografias que Mauro Restiffe tirou de São Paulo, expostas no IMS-RJ até este domingo (28), foram comentadas no próprio local pela coordenadora de pesquisa e educação do IMS, Ana Luiza Nobre, que destacou como Restiffe foge do óbvio, colocando em primeiro plano a relação das pessoas com monumentos e o espaço urbano.

Abrir os olhos no escuro

Um jovem escritor norte-americano afirmou que abandona um livro quando percebe que o autor concorda com o niilismo do protagonista. O comentário, antes de ser uma caricatura do espírito positivo americano, é um atestado de burrice que diz muito sobre a miséria do pensamento literário de um escritor em perfeita sintonia com o seu tempo.

Brasília em transe: um festival histórico

A edição do Festival de Brasília encerrada ontem foi histórica, não só pela decisão inédita de dividir em partes iguais o prêmio de R$ 250 mil destinado ao melhor filme, mas também pela força das obras exibidas, em especial do longa escolhido pelo júri oficial, Branco sai. Preto fica, de Adirley Queirós.