O gosto amargo da vitória

Há vitórias, como esta sobre o Chile, que deixam um sabor amargo, um travo de dúvida sobre nossos méritos e possibilidades reais. Diante da escassez de engenho e arte mostrada no Mineirão, os mais velhos devem ter-se perguntado: “Como foi que nosso futebol chegou a um ponto tão baixo?”.

Amazônia ou A dramaturgia da fauna

Com argumento semelhante ao de Rio 2, coprodução franco-brasileira consegue uma narrativa envolvente a partir de dados reais da floresta, graças à experiência do diretor Thierry Ragobert em documentários sobre a natureza. O resultado é esteticamente interessante, mas pode exigir demais do público infantil, ao qual parece se destinar. 

A Rose, muito obrigada

Com mais direitos que suas antecessoras, nova geração de mulheres nem sempre dá os devidos créditos à luta feminista que lhe garantiu condições hoje vistas como naturais. Rose Marie Muraro, intelectual morta na semana passada, deu contribuições fundamentais ao aproximar do leitor brasileiro Betty Friedan e outras teóricas e, ainda, escrever obras que relacionavam as opressões de gênero e classe. 

As surpresas da caixinha

Esta Copa está conseguindo um equilíbrio entre o previsto e o inesperado. É isto o que faz do futebol um teatro vivo, cuja trama se escreve a cada ato, destaca José Geraldo Couto. Quanto ao Brasil, pode muito bem ser campeão. É um dos favoritos, como aliás tem sido há mais de meio século. Mas dificilmente encantará o mundo, a não ser em um ou outro lampejo de Neymar.

Humberto Franceschi, amável amador

Humberto era um tipo inesquecível com seu proverbial mau humor, as imprecações contra a música de hoje, contra a vida. Mas dizia tudo com tamanho humor e tamanha paixão que se tornava impossível não querer ficar horas ouvindo sambas e histórias a seu lado. Viveu até o último sábado para salvar do esquecimento os princípios da música popular brasileira.

As cabeças cortadas de Sergio Bianchi

Sergio Bianchi usa em novo filme cenas de seu primeiro longa-metragem e reforça a ideia expressa em título de outro: o Brasil é “cronicamente inviável”. Entre os temas de Jogo das decapitações estão o oportunismo político de militantes encastelados em ONGs ou na política institucional; e a barbárie que caracteriza desde sempre nossa formação social.

“Democracia de baixa intensidade militariza gestão social” – quatro perguntas para Paulo Arantes

O professor de filosofia da USP Paulo Arantes diz que a herança da Copa será um aprofundamento dos aparelhos de vigilância e punição dos movimentos sociais. “O subversivo clássico de ontem é hoje um gestor estratégico precioso, já que o risco agora é social”, afirma ele, que lança o livro O novo tempo do mundo. Arantes foi ligado ao PT e se tornou crítico do partido no poder.

Do “lá fora” ao “aqui dentro”

A abertura da Europa Ocidental aos atletas imigrantes, naturalizados ou oriundos de ex-colônias, como Balotelli (foto), resultou em equipes multiétnicas e bagunçou os estereótipos que contrapunham a “força europeia” ao “talento sul-americano ou africano”, escreve José Geraldo Couto. A convivência entre quem é “de fora” e quem está “dentro” também tem sido rica para os brasileiros na Copa, como mostrou a aceitação da invasão de torcedores de Gana a um shopping de Natal. Só a polícia continua despreparada.