Em 25 de outubro de 2001, Carlos Heitor Cony recebeu uma equipe do Instituto Moreira Salles para uma entrevista em seu escritório, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro. A conversa, que começou pouco depois das 10h e se estendeu por nove horas, foi publicada na edição dos Cadernos de Literatura Brasileira dedicada ao autor, lançada no fim daquele ano. Em homenagem a Cony, morto no dia 5 de janeiro de 2018, aos 91 anos, o IMS coloca à disposição dos leitores, em formato digital, a íntegra do caderno, que traz ainda estudos sobre sua obra, depoimentos de amigos, trechos de livros, um ensaio visual e uma linha do tempo sobre sua carreira.
Na entrevista concedida a Antonio Fernando de Franceschi e Rinaldo Gama, Cony respondeu animadamente a mais de 100 perguntas formuladas em colaboração com Lygia Fagundes Telles, Frei Betto, Affonso Romano de Sant’Anna e Wilson Martins. Falou sobre o retorno à literatura depois das duas décadas de silêncio que se seguiram a Pilatos (1974), narrativa “completamente louca, inviável” que ele considerava sua obra-prima. Recordou a infância e a família, sobretudo o pai, inspiração para Quase memória (1995), romance com o qual quebrou o silêncio – e que se tornou seu livro mais popular.
Ao longo da conversa, discorreu sobre os principais temas que animaram sua obra, da religião à política, do jornalismo à arte e à filosofia. Então com 75 anos, definiu sua visão de mundo como o resultado de um conflito constante entre esperança e ceticismo: “O problema do homem é esse – a esperança. Pensem na frase mais radical da Divina Comédia. Deixar a esperança de lado para entrar no Inferno diz tudo. O Inferno não é um lugar de suplício, não tem fogo, não tem caldeirão. É apenas um mundo sem esperança. Se você perde a esperança, torna-se um residente do Inferno, com direito a green card. A esperança dá ao homem o dom de suportar o mundo”.
A edição dos Cadernos de Literatura Brasileira sobre Cony apresenta também depoimentos de seus amigos Luis Fernando Verissimo, Zuenir Ventura, Marcio Moreira Alves, Heloisa Seixas e Ruy Castro; ensaios de Antonio Hohlfeldt, Raquel Ilescas Bueno e Luiz Alberto Gómez de Sousa; trechos do romance A tarde de sua ausência, então inédito; uma linha do tempo e um ensaio visual do fotógrafo Eduardo Simões sobre o Rio de Cony.