Cássia Eller: flor e espinho

É impossível assistir ao documentário de Paulo Henrique Fontenelle sobre Cássia Eller e não se apaixonar por ela. Não porque o filme apare arestas e a santifique, como fazem tantos outros do gênero, nem tampouco porque a “explique”. O mérito de Cássia Eller consiste justamente no oposto: apresentar a personagem como pedra bruta, multifacetada. Enigma que não se decifra.

Carnaval de Pixinguinha

A área externa da casa do IMS-RJ foi o palco, em 24 de janeiro, do show Carnaval de Pixinguinha, que reuniu dez músicos e o cantor Pedro Miranda para uma celebração em torno de arranjos escritos pelo mestre na década de 1950. O show marcou a abertura da exposição Um passeio pelo Rio: a cidade nas andanças de Joaquim Manuel de Macedo.

Epitáfio

Amigos me disseram que Birdman, de Alejandro Iñárritu, era “contra tudo isso que está aí”, ou seja, o mundo das celebridades, das mídias sociais, da frivolidade e da superficialidade. Mas o filme é justamente “tudo isso que está aí”, repleto de personagens postiços que têm crises existenciais numa velocidade histérica. Um bom contraponto a Birdman é a exposição “Silence”, de On Kawara, em cartaz no Guggenheim.

Dois dias, uma noite – uma caminhada resume o mundo

O cinema mais político que se faz hoje no mundo talvez seja o dos irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne, embora seus filmes se passem no plano miúdo do cotidiano de pessoas comuns. Dois dias, uma noite é prova disso: narra o esforço de uma operária para manter seu emprego numa pequena fábrica, combinando um realismo áspero e uma elevada espiritualidade, e tratando de política para além da conjuntura imediata.

Crônica de um verão crônico

O sol nas bancas de revista fez do verão uma notícia e um modismo. Águas mornas, pôr do sol sob aplausos, conexão wi-fi nas barracas de praia, quitutes sazonais, sorvetes e cervejas artesanais fazem parte do ritual de calor e dor na cidade que em breve comemora 450 anos podendo se envergonhar de um recorde em seu longo processo de gentrificação. Nunca, em tão curto espaço de tempo, tantos de nós fomos expulsos de nossos ambientes em prol do estrangeiro.

A natureza não-indiferente

Se observamos apenas a história narrada de O segredo das águas, novo filme da japonesa Naomi Kawase que entra em cartaz esta semana no IMS, vemos como dois adolescentes aprendem a viver no mundo adulto. A his­tória tem algo de um tradicional romance de formação. Mas, se observamos também o modo de narrar, o filme se revela mais próximo de um ensaio cinematográfico – um ensaio sobre (como queria Eisenstein) a natureza não-indiferente.

Verdadeira, só a arte concreta

A coordenadora de artes visuais do IMS apresenta o livro Geraldo de Barros e a fotografia, que acompanha a exposição homônima, em cartaz no IMS-RJ. Ela destaca que, para o artista, a imagem fotográfica não era uma representação objetiva da realidade, mas um material passível de ser manipulado de diferentes maneiras.

O ovo da serpente

O historiador da arte Aby Warburg (1866-1929) vinha de uma das famílias judias mais ricas da Alemanha e foi mandado para o sanatório Bellevue, na Suíça, depois de ameaçar matar a mulher e os filhos a tiros. Diagnosticado como esquizofrênico maníaco-depressivo, quis eliminar a família para evitar que fossem perseguidos, trancafiados em prisões secretas, torturados e assassinados, o que retrospectivamente teria feito dele também um visionário.