“O amor é o seu modo”, assinala Eucanaã Ferraz em poema sobre Susana de Moraes, morta nesta terça, 27 de janeiro, após longa batalha contra o câncer. O poema é de 2008. Susana era a primogênita de Vinicius de Moraes.
Estética da fome: 50 anos
O ensaio “Estética da fome”, no qual Glauber Rocha prega que os países subdesenvolvidos construam sua força a partir de suas fragilidades, está completando 50 anos. Segundo ele, deve-se criar uma cultura da fome, pois esta é a nossa originalidade. E isto não se dá de forma pacífica. “Uma estética da violência antes de ser primitiva é revolucionária, eis aí o ponto inicial para que o colonizador compreenda, pelo horror, a força da cultura que ele explora.”
Copacabana em transe, Recife em ebulição
Está em cartaz o pernambucano Amor, plástico e barulho e saiu em DVD Copacabana mon amour, realizado por Rogério Sganzerla em 1970. Apesar das muitas diferenças, os filmes têm em comum um corajoso corpo a corpo com a chamada “realidade social” de uma geografia específica: o de Sganzerla com uma Copacabana fervilhante de contradições; o de Renata Pinheiro com a “cena brega” da periferia de Recife.
Imaginação visual – quatro perguntas a Miguel Del Castillo
Miguel Del Castillo publica até o fim de janeiro, pela Companhia das Letras, sua obra de estreia, Restinga, composta de dez contos e uma novela. Ex-morador do Rio de Janeiro, Miguel faz da praia e do mar cenários de contos breves, sutis e repletos de silêncio. Eleito pela revista Granta um dos vinte melhores jovens escritores brasileiros, o autor conversa com o Blog do IMS sobre o seu primeiro livro.
Tédio e submissão no livro de Houellebecq
Soumission é o livro com o qual Michel Houellebecq obteve os mais longos 15 minutos de fama de sua carreira, por estar na capa da edição da Charlie Hebdo no período do atentado. É injusto reduzir o romance a uma islamofobia, porque Soumission é muito pior que isso.
Rússia, Japão e Bahia em três grandes filmes
Três belíssimos filmes estão entrando em cartaz: o japonês O segredo das águas, o russo Leviatã, e o brasileiro Depois da chuva. Leviatã é de densidade humana e política, e grande rigor formal. Depois da chuva é original ao abordar o período do movimento das Diretas, a eleição indireta de Tancredo, e a agonia e morte do presidente eleito.
Os artistas vão salvar o mundo…
Durante dois anos, fui artista em residência no Centro Le Fresnoy, na França, e morei em Roubaix, cidade que se tornou exportadora de jovens jihadistas. À postura virulenta e enfant terrible do Charlie Hebdo se contrapõe o ideal de que os artistas vão salvar o mundo. Muitas vezes servimos como boi de piranha em projetos de remodelagem de áreas urbanas. Assim, a pobreza pode ser vista, consumida ou experimentada numa espécie de parque temático artístico-antropológico.
Guerrilha de ideias
Tanto o quadrinista Joe Sacco como o escritor Teju Cole são nomes respeitados em suas áreas. Mas, em seus comentários sobre o atentado ao Charlie Hebdo, é como se eles se dirigissem a um público ignorante e ingênuo, que ainda acreditasse num mundo livre de contradições, dividido entre mocinhos e bandidos. É como se atribuíssem ao Ocidente a mesma uniformidade que os islamófobos atribuem ao Islã.
O filme não morreu, viva o filme
Umit Mesut vive do seu próprio encantamento com a película, abrigado numa pequena loja que exibe filmes em 16mm em Londres. Não tem interesse em nenhuma forma de promoção, mesmo possuindo um estabelecimento comercial, mas é capaz de conversar horas, em empolgação infantil, com qualquer um que demonstre paixão pelo cinema.
No deserto do tempo: Patricio Guzmán e Nostalgia da luz
O documentário Nostalgia da luz, que entra em cartaz no IMS-RJ dia 15/1, propõe o deserto como uma metáfora do tempo. Diz: o presente não existe, vivemos atrasados, o agora ocorreu no passado. Situado no Atacama, o filme alterna entre discussões astrofísicas e documentação da busca por “desaparecidos” na ditadura de Pinochet.
