Faces de Oppenheimer

Robert Oppenheimer: A Life Inside the Center, de Ray Monk, é a mais recente biografia sobre o cientista norte-americano, que já teve sua vida dissecada em vários outros livros. O triunfo de Monk está na sua prosa cuidadosa e fluente, e em tratar Oppenheimer como se fosse um multifacetado personagem de ficção. Oppenheimer é o enigma, Ray Monk é o detetive, o leitor é seu cúmplice.

Os oito odiados, réquiem por uma nação

Em Os oito odiados, novo filme de Tarantino, parece nascer uma nação dilacerada, de todos contra todos, em que cada um se move apenas pelo ódio e pela cobiça. O negro, o mexicano, a mulher, o ianque, o sulista – todos são sujeito e objeto do ódio homicida em algum momento, se não o tempo todo. Não há sentimento possível de comunidade. É o precoce ocaso de uma nação.

“Ele é de esquerda?”

O novo filme de Tarantino não poupa piadas e injúrias racistas, quase sempre fazendo a sala gargalhar. É um método arriscado, mas muito potente, de levar o racismo a nocaute – pela exaustão, pela própria truculência e pela própria imbecilidade. É possível que se houvesse um Tarantino no Brasil, nem chegassem a assistir a seus filmes, se contassem a história do racismo neste país, porque há quem diga que não existem negros no Brasil.

O abraço de Nietzsche

Como não narra uma história, como reúne a matéria bruta que antecede à construção de uma narração, cada cena de O cavalo de Turim, novo filme do húngaro Béla Tarr em cartaz no IMS-RJ, é mais o tempo que ação dentro dela, mais o espaço em que os personagens se movem que o movimento deles no espaço.

Tudo é impermanente – quatro perguntas a Richard McGuire

serrote 21 adianta quinze páginas duplas do livro Aqui, de Richard McGuire, que será lançado pela Companhia das Letras no ano que vem. O projeto ambicioso, que abrange não ficção, quadrinhos, memórias e até janelas do computador, foi considerado por Chris Ware como “a graphic novel que mudou tudo”. McGuire revela os bastidores da HQ em entrevista ao Blog do IMS.

Orson Welles, o desmesurado

A Versátil lançou duas caixas com filmes de Orson Welles. É impossível dissociar o cinema de Welles da figura de seu realizador: ambos brilhantes, desmesurados, incômodos, indomáveis. Toda a sua filmografia, desde Cidadão Kane (1941), pode ser vista como variações em torno do tema da grandeza e da fragilidade humanas, do caráter vão da riqueza, da fugacidade do poder.

A força de quem não tem nada a perder

A reconstituição da luta feminina por direitos civis e trabalhistas do filme As sufragistas reflete conflitos atuais da política. Ao abalar os pressupostos da razão masculina como sinônimo de razão universal, as sufragistas do início do século XX e as feministas do início do século XXI participam de um processo político amplo que vem mudando a cara do mundo ocidental nos últimos 100 anos. 

Salve 2015! (2)

A (des)premiação da poesia, o preconceito transformado em orgulho, a Nouvelle Vague no centro da imaginação, as pequenas virtudes nas relações humanas – isso aqui não é, como já foi dito no primeiro capítulo da série “Salve 2015!” – nem lista dos melhores, nem retrospectiva. É um jeito menos aborrecido – e sem falsas alegrias – de se despedir do ano. Tchau!

Star wars e as mitologias instantâneas

O novo episódio de Star Wars dá uma curiosa volta sobre si mesmo. Ao narrar a busca pelo desaparecido Luke Skywalker, pretende de algum modo resgatar a aura comparativamente “ingênua e romântica” dos primeiros da série. O filme de J. J. Abrams, no entanto, demonstra frouxidão. Os momentos em que ele poderia e deveria ascender ao estatuto do épico carecem de força e grandeza.

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Antes do novo Star Wars, é exibido um comercial de banco que discorre, com o auxílio da voz emocionada de uma atriz conhecida, sobre as boas coisas da vida. Ao contrário do episódio VII de Star Wars, ninguém é pobre, nem esfarrapado, nem feio nesse mundo do melhor da vida que o banco selecionou para você antes de dizer que é banco.