Aos literatos, a literatura

Kazuo Ishiguro traz ao arraial mundial das letras um período de bonança. Depois de ter emendado Svetlana Alexiévitch (jornalista!) com, heresia máxima, Bob Dylan (compositor!), a Academia Sueca restitui o Nobel de Literatura a quem de direito, um escritor “de verdade”. Ufa. Um escritor simpático, hábil, convencional e de bons modos. Está selada a Pax Literária.

Distopias duradouras

Deus, fascismo e os EUA dos anos 1980: Alexandre Rodrigues conta de onde surgiram as ideias para O conto da aia, romance de Margaret Atwood que serve de base para The Handmaid’s Tale, série de tv premiada com o Emmy.

Além da globochanchada

De quando em quando surge no cinema brasileiro uma comédia que escapa da vala comum das franquias mais previsíveis e vulgares da Globo Filmes (as chamadas “globochanchadas”) e esboça uma revitalização ou ao menos um arejamento do gênero. A aposta do momento é Divórcio.

A Rocinha nunca foi só a Rocinha

Nas muitas camadas que formam a Rocinha, uma chama a atenção: a centralidade atribuída, seja pelos governos, seja pela imprensa, a tudo de bom ou ruim que ali acontece. Do jeep tour que faz da favela um espaço exótico à grande concentração de recursos de ONGs, nada na Rocinha passa desapercebido.

Brasília e o cinema proletário

No ambiente inflamável e polarizado do 50º Festival de Brasília, acabaram ofuscados os filmes que não atendiam às exigências militantes. Cabe esperar que sejam as dores do parto de uma conquista de visibilidade e não o surgimento de uma patrulha duradoura. Por acerto do júri, os prêmios principais foram para obras que superam a falsa dicotomia entre contundência sócio-política e empenho estético.

Escrita, nomadismo e queer

Em Argonautas, Maggie Nelson (foto) trabalha com o indizível da experiência e o avesso das palavras. A escrita, apesar de ferramenta para demarcar ou evidenciar o nomadismo, será sempre insuficiente diante da movência do que existe. As palavras se movem, os sentidos se alteram, as peles, os gêneros e os sexos se desdobram de um jeito particular, inaudito.

Fronteiras de fita crepe

Um retrocesso político, social e moral como o que estamos vivendo parece exigir, para completar seu estrago, um embotamento geral da sensibilidade e da inteligência. Em outras palavras, querem nos tornar brutos e burros. E é contra isso que reage um filme como Pendular, sobre afetos e intimidade.

Tio Jorge

A seção Primeira Vista publica mensalmente textos inéditos de ficção, escritos a partir de fotografias selecionadas no acervo do IMS. O autor escreve sem ter informação nenhuma sobre a imagem, contando apenas com o estímulo visual. Neste mês de setembro, Samir Machado de Machado foi convidado a escrever sobre uma foto de Alice Brill.

Um filme de mocinho

Polícia Federal (passemos ao largo da piada do subtítulo: A lei é para todos) é um filme de mocinho. O que caracteriza o filme de mocinho, seja ele faroeste, policial, melodrama ou ficção científica, é uma simplificação extrema dos dados do real, eliminando ambiguidades e nuances para construir um universo dramático em que o bem e o mal estão muito bem delimitados. E a estratégia narrativa consiste em manipular o olhar e as emoções do espectador de modo a induzi-lo a tomar partido e torcer por um dos lados do conflito – o lado do “bem”, evidentemente.

Onde vivem os Dinobots

Para além do apelo comercial e atrativos estéticos, talvez os robôs-dinossauro do game Horizon: Zero Dawn e do filme Transformers: A era da extinção indiquem um conjunto de ansiedades contemporâneas.