A segunda vinda de Judith Butler ao Brasil provoca reação de grupos radicais de direita, que insistem em encontrar na filósofa americana aquilo que ela não é: nem a primeira e principal formuladora da teoria queer nem a inventora do gênero como construção social. O que está em pauta são os fins da democracia.
O horror do Brasil
As boas maneiras, ganhador do prêmio especial do júri no festival de Locarno, surge como um dos longas mais aguardados da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Dirigido pelos jovens brasileiros Marco Dutra e Juliana Rojas, o filme atualiza o mito do lobisomem e consegue o prodígio de enfrentar o terror sem perder de vista o amor e o humor. Como dizia Hitchcock, o problema não é o clichê, mas sim partir de uma ideia original e desembocar num clichê. As boas maneiras, assim como os filmes do mestre do suspense, faz justo o contrário: parte do clichê para algo original. José Geraldo Couto comenta esta e outras boas atrações da Mostra.
O valor do riso
Nem sempre é fácil empregar o humor como ferramenta da militância feminista. Fazer rir, e rir de si mesma, tomar para si toda a dimensão do riso, é botar as coisas em seus devidos lugares e as mudanças em marcha. Que alguns homens não vejam graça nenhuma nisso não é problema nosso.
Kafka no chaco
Um dos filmes mais originais e intrigantes da 41ª Mostra de Cinema de São Paulo é certamente Zama, coprodução multinacional dirigida pela argentina Lucrecia Martel. O filme é ambientado na região pantanosa onde hoje é o Paraguai pouco antes das guerras de independência contra a Espanha. Mais que um “romance histórico”, trata-se de um antiépico, em que toda a agitação, todo o movimento, parece não levar a parte alguma, numa atmosfera estagnada e angustiante.
Preciso ou não arrumar minha mesa?
A seção Primeira Vista publica mensalmente textos inéditos de ficção, escritos a partir de fotografias selecionadas no acervo do Instituto Moreira Salles. O autor escreve sem ter informação nenhuma sobre a imagem, contando apenas com o estímulo visual. Neste mês de outubro, o poeta Armando Freitas Filho foi convidado a escrever sobre uma foto de Mario Cravo Neto, feita em 1980 para uma série em torno de Canudos.
Se oriente, rapaz
Vem da Ásia uma das ondas mais fortes e interessantes do oceano de filmes que compõem a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. No rastro do artista multimídia chinês Ai Weiwei, que está na cidade para apresentar seu documentário sobre refugiados nos quatro cantos do globo, tem filmes da Coreia, de Taiwan, do Japão… Confira as apostas de José Geraldo Couto na maratona cinéfila iniciada no dia 19.
Nós, pessoas em silêncio
Há uma geração inteira de jovens que prefere o envio de áudios sucessivos às longas conversas telefônicas que marcaram minha adolescência, incluindo o estranho debate sobre quem desligaria o telefone primeiro. Há uma geração inteira de jovens cuja troca de textos diários pode significar relações silenciosas, pautadas mais por emojis do que por palavras.
O ouro do tempo
Segundo longa-metragem do diretor Fellipe Barbosa, Gabriel e a montanha, não apenas confirma seu talento como atesta um notável amadurecimento artístico e humano, no enfrentamento, desta vez, de um desafio mais complexo: reconstituir dramaticamente os últimos dias de vida de Gabriel Buchmann, jovem economista brasileiro morto ao escalar o monte Mulanje, no Malawi, no sudeste da África.
Alguns dias violentos
Alguns dias violentos é o título do livro que estou terminando de aprontar. Ando preocupado com a ideia de escrever textos cada vez mais consequentes, sem fugir ao plano da experiência imediata. Penso que o fim do mundo é uma espécie de morada, que tem a sua domesticidade, que também pode abrir-se para uma cena íntima.
Futuro do pretérito
Blade Runner 2049, de Denis Villeneuve. Digo logo que gostei. Não se trata de saber se o filme é “bom” ou “ruim”, avaliações tão instáveis e subjetivas, mas de reconhecer o que ele oferece em termos de entretenimento, espanto e reflexão. E há muito dessas três coisas nele.
