Gênero e desigualdades – limites da democracia no Brasil, de Flávia Biroli, cumpre um papel histórico de registro do que diversos movimentos de mulheres está fazendo no Brasil contemporâneo, com maior ou menor sucesso, com mais ou menos risco de vida. Precisa ser lido como um trabalho atravessado pelo embate entre os movimentos de mulheres negras e a pauta de reivindicações das feministas brancas.
Baladas do lado sem luz
Em momentos de trauma político e social, o cinema pode servir como válvula de escape, mas pode também aprofundar o conhecimento e a reflexão sobre o real, além de manter viva a sensibilidade que os tempos brutais tendem a embotar. Dois filmes brasileiros realizam com brio essa nobre vocação: o road movie proletário Arábia, de Affonso Uchôa e João Dumans, e o documentário Em nome da América, de Fernando Weller.
A bandeira da Síria em seu perfil
O problema não é postar o sentimento solidário, mas transmitir essa compaixão com superioridade, fiscalizar o luto dos outros, conceder cliques como quem assina manifestos. Algumas causas são mais urgentes que outras, mas a irrelevância dos resmungos é equiparável.
A mulher no labirinto
Afinal, o que quer uma mulher? A pergunta, que tem desconcertado tantos homens sabidos, de Sigmund Freud a Caetano Veloso, às vezes recebe uma resposta enganosamente simples: amor. Pois essa resposta leva a outra pergunta, ainda mais complexa: e o amor, o que é? Por esse labirinto de interrogações que geram outras interrogações trafega o novo filme da francesa Claire Denis, Deixe a luz do sol entrar.
Tupinilândia
Tupinilândia é um pouco sobre uma infância que parece colorida e divertida quando vista em retrospecto, exceto que o país era uma ditadura, a violência urbana era tão ou mais forte que a atual, AIDS era uma palavra proibida e a economia ia tão mal quanto o casamento dos meus pais.
Nosso mundo movediço
Entre os cineastas mais fortes e originais da atualidade está a argentina Lucrecia Martel, ainda que sua obra se resuma por enquanto a apenas quatro longas-metragens. Mais do que propriamente um estilo, o que unifica esses quatro filmes tão diferentes entre si é antes um método: um modo oblíquo e fragmentado de encarar os seres e as ações, como quem os colhe em pleno andamento e ainda busca os nexos que lhes deem sentido.
Tirolesa
Primeira vista traz textos de ficção inéditos, escritos a partir de fotografias selecionadas no acervo do Instituto Moreira Salles. O autor escreve sem ter informação nenhuma sobre a imagem, contando apenas com o estímulo visual. Neste mês Sérgio Rodrigues foi convidado a escrever sobre uma foto de José Medeiros, tirada no Rio de Janeiro por volta de 1950.
Alemanha adentro, mundo afora
Em pedaços e Western (foto), dois filmes alemães, refletem de modos diferentes e até contrastantes sobre a complexa relação da Alemanha com o mundo contemporâneo. Não são painéis sociológicos ou políticos, mas histórias concentradas na trajetória de uns poucos personagens comuns, ou quase.
Teoria geral do abandono literário
Como escritor, é difícil definir quando um devaneio se torna um projeto. Quando uma ideia que ocorre no chuveiro de fato vira algo a ser escrito. E quando escrito, ou projetado, é difícil estabelecer quando se define que é viável. E existe um momento em que o escritor, ao devanear, por mais que queira escrever, decide que não, não é viável. Este momento me interessou. Saí à procura da teoria do fracasso/sonho/inacabado literário perfeito.
A sina do menino infeliz
Torquato Neto – Todas as horas do fim chega aos cinemas com a história do artista multimídia avant la lettre (poeta, compositor, cronista, ator, cineasta) morto por suicídio em 1972 aos 28 anos. Não foi uma vida comum, não foi uma arte pequena. Vários lances da intensa e acidentada trajetória do piauiense passam em algum momento pela sombra ameaçadora da morte.